Os riscos do rompimento de relações diplomáticas do Brasil e Israel.

 

O rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Israel poderia ter várias consequências negativas, tanto no plano político e econômico quanto no estratégico e humanitário. Neste artigo, se pretende mostrar os principais riscos e ganhos dessa medida.

O Brasil poderia ser visto como um país que toma posições radicais, afetando sua imagem como mediador neutro em conflitos internacionais. Os EUA e outros países ocidentais poderiam reduzir a cooperação com o Brasil em temas estratégicos. O Brasil deixaria de ter voz em discussões sobre o conflito israelense-palestino, reduzindo seu papel como ator global.

Existiriam ainda consequencias econômicas e comerciais. Israel é um líder em tecnologia (cybersegurança, irrigação, medicina), e o rompimento poderia prejudicar acordos de transferência de conhecimento. Embora o volume comercial não seja enorme (cerca de US$ 2,5 bilhões em 2023), setores como defesa, agropecuária e químicos seriam afetados. As vezes, um drone é barato e não pesa na balança comercial, mas ele tem uma utilidade enorme no setor agrícola e na pecuária que contribui para o barateamento das proteínas animais, enfim, as vezes um parafuso é barato, mas sem ele o trator não opera. Tambem existem empresas israelenses que atuam no Brasil (ex.: startups, segurança cibernética), e o clima político hostil poderia desestimular novos negócios.

Em relação a segurança e a defesa, Israel fornece tecnologias de defesa (drones, sistemas de vigilância) usadas pelo Exército e Polícia Federal. Isso serve para o combate ao crime organizado. Um rompimento hostil poderia aumentar ataques cibernéticos entre os dois países. Alguém aí lembra daquelas invasões nas lives da época da pandemia da covid? Por aí.

A maior comunidade judaica da América Latina (120 mil pessoas) poderia se sentir marginalizada, aumentando polarização interna. Crises diplomáticas costumam alimentar discursos de ódio contra minorias. A Historia está presente e temos de conhecer o passado para não repeti-lo. Sem relações diplomáticas, o Brasil teria menos capacidade de auxiliar cidadãos em zonas de conflito (como palestinos com dupla cidadania). Israel poderia barrar vistos ou cooperação em casos de ajuda humanitária. O Brasil poderia sofrer sanções ou retaliações em fóruns como a ONU, OMC e OCDE. Nunca devemos esquecer que Israel é protegido dos Europeus e, principalmente dos EUA.

Embora o rompimento possa ser visto como uma posição de princípio (em protesto contra a política israelense nos territórios palestinos), os custos práticos seriam altos. Alternativas, como a redução do nível diplomático (manter embaixadas, mas sem plena cooperação) ou pressão via organismos multilaterais, poderiam ser mais eficazes sem causar um colapso nas relações. Se o governo brasileiro optar por essa medida, deverá preparar-se para retaliações e buscar novos parceiros para compensar as perdas.

Talvez o leitor esteja se perguntando, existe alguma vantagem em romper relações diplomáticas com Israel? Sim, existem algumas possíveis vantagens no rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Israel, dependendo da perspectiva política e dos objetivos estratégicos do governo brasileiro. No entanto, essas vantagens são mais simbólicas e políticas do que práticas ou econômicas. O rompimento seria visto como uma condenação clara às políticas israelenses nos territórios ocupados, especialmente em Gaza e Cisjordânia. Nosso país ganharia apoio de nações que criticam Israel, como Argélia, África do Sul, e Turquia. Reforçaria o discurso brasileiro como mediador em conflitos do Oriente Médio, especialmente perante a ONU e a Liga Árabe. Se outros países seguissem o exemplo, poderia isolar diplomaticamente Israel. Isso mostraria que ações militares extremas têm consequências diplomáticas, e talvez o mundo ficaria melhor.

Essa medida, fortaleceria a base política de partidos e movimentos que defendem a causa palestina, a questão é saber se estes coletivos iriam segurar a onda, ou deixaria o governo brasileiro refém da extrema direita brasileira, tão raivosa e mostrando os dentes ao governo. O passado recente tem mostrado que os progressistas não estão dispostos a este confronto.

Enfim, as vantagens são mais políticas e simbólicas do que econômicas ou estratégicas. O rompimento poderia ser útil se O Brasil quiser se posicionar como líder do Sul Global contra a ocupação israelense. Se o governo estiver disposto a arcar com os custos (perda de tecnologia, tensão com EUA, etc.). Porém, se o objetivo for manter influência diplomática e acesso a benefícios práticos, outras medidas (como rebaixar relações sem romper totalmente) podem ser mais eficazes.

Existem alternativas ao rompimento total: Retirada de embaixadores (sem cortar laços), votar contra Israel em organismos internacionais (ONU, OMC) e suspender acordos militares, mas manter comércio e diálogo. No fim, a decisão depende de quanto o Brasil está disposto a sacrificar em nome de sua postura política.

 

 

 

 

 

 

 

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